Quando você imaginaria que o principal jogador de
um dos maiores rivais do seu time, responsável pela eliminação na temporada
anterior, faria parte do seu time? Pois isso aconteceu com o New York Knicks em
1971.
Depois de serem eliminados por Baltimore em uma série que somente foi decidida na última posse do sétimo jogo, os Knicks trocaram Cazzie Russel, que havia perdido seu posto de titular para Bill Bradley, para o
San Francisco Warriors e recebeu Jerry Lucas, que podia atuar como pivô e
ala-pivô.
O começo da temporada 1971-72 se revelou mais um
pesadelo para os Knickerbockers, a equipe lutava para se manter com
aproveitamento de 50%. Com 11 partidas jogadas, os joelhos de Willis Reed não aguentaram e o Capitão estava fora do restante da temporada regular.
Após uma desastrosa excursão na costa oeste, onde perderam os três últimos dos quatro jogos, os Knicks tinham seis vitórias e oito derrotas.
Após uma desastrosa excursão na costa oeste, onde perderam os três últimos dos quatro jogos, os Knicks tinham seis vitórias e oito derrotas.
Em Baltimore, o principal jogador do time, Earl “The
Pearl” Monroe não estava feliz. Selecionado pelo Bullets em 1967, no mesmo ano que os Knicks selecionaram Walt Frazier,
Monroe passou a questionar a lealdade da franquia e de seu dono, Abe Pollin, com
os jogadores.
Após perder o título para o Milwaukee Bucks em
1971, ele queria que seu contrato com os Bullets fosse modificado, mas a equipe
recusou.
Em outubro de 1971 o agente de Monroe, Larry
Fleisher, avisou ao time que Monroe não jogaria mais pelo Bullets, ele exigia
uma troca. O jogador desapareceu do Civic Center, não avisou seus companheiros
de time, nunca disse adeus.
O caso chegou à imprensa. Pollin, se recusando a
negociar com Monroe, fez algumas trocas para ajustar o time sem Earl, mas na
noite de 22 de outubro de 1971, os Knicks foram a Baltimore e venceram os Bullets
facilmente por 110 a 87.
A situação em Baltimore estava caótica, com outros
jogadores exigindo melhores salários. Monroe estava ameaçando ir para o Indiana
Pacers da ABA, o que deixaria os Bullets sem nada em troca, logo, Baltimore
concordou em realizar uma troca. Earl apresentou uma lista de times que tinha
interesse: Los Angeles, Chicago e sua cidade natal Philadelphia.
(E você pensando
que somente os LeBrons, Carmelos e Dwights faziam isso...)
Então Pollin atende uma ligação de Ned Irish: “Te
dou Dave Stallworth e US$ 100.000,00 por Monroe”. Pollin disse que se Irish
incluísse o reserva Mike Riordan no acordo ele faria a troca. Red Holzman sempre
teve interesse em Monroe, tanto que ele declarou que se Baltimore não tivesse
selecionado Earl antes do Knicks, provavelmente ele seria escolhido pelo New
York.
Fleisher avisou a Monroe sobre a possível troca
para Nova York. Inicialmente ele recusou a ideia de ir para o rival, mas após
discutir com seus familiares e amigos próximos, ele aceitou.
Então no dia 10 de dezembro de 1971, é anunciado
que Knicks e Bullets concordaram em realizar uma troca: Os Knicks mandavam os
reservas Mike Riordan e Dave Stallworth, além de uma quantia em dinheiro e
recebiam dos Bullets Earl “The Pearl” Monroe.
E assim os Knicks tinham mais um All-Star no seu
elenco e então começaram as dúvidas de como o New York iria jogar dali para
frente com Walt Frazier e Monroe.
Frazier conta que ficou chocado com a troca na
época:
“Achava que precisávamos de um jogador alto... Essa foi provavelmente a época mais tumultuosa da minha carreira porque agora todos diziam que Frazier estava fora, que seria trocado, não poderiam manter os dois e tudo isso, foi uma época difícil.”
Sua estreia foi no dia 11 de novembro de 1971
contra o Golden State Warriors, ao entrar em quadra pela primeira vez ele foi
muito aplaudido pela torcida no Garden. Em 20 minutos, ele marcou nove pontos e
o Knicks perdia para Golden State por 112 a 103, quarta derrota seguida do New York.
Monroe parte para a bandeja em sua estreia no Garden contra o Warriors em 1971 |
Inicialmente ele usou o número 33, mais tarde
mudaria para 15, o número que utilizava em Baltimore, 10, já era de Frazier nos
Knicks.
Ao contrário da troca por DeBusschere o impacto de
Monroe não foi imediato. De fato, ele não teve seus melhores números em sua
primeira temporada pelos Knicks. Enquanto que na temporada 1970-71 ele teve
média de 21,4 pontos por jogo, nos 60 jogos com os Knicks na temporada 1971-72, a sua
média baixou para 11,4 pontos por jogo.
Recuperando-se de uma cirurgia para remover um
esporão ósseo no tornozelo, Monroe inicialmente vinha do banco, substituindo
Walt Frazier. Monroe fala que partiu dele a decisão de vir do banco em seu
primeiro ano pelo Knicks:
“Eu basicamente tentei deixar todos confortáveis comigo. Foi como eu fiz naquele (primeiro) ano. Quando cheguei lá, disse a Red que Dick Barnett é o titular e eu não queria bagunçar o time, que dessa maneira queria conquistar o meu espaço.”
Na época nunca houve uma guerra de egos, mas sim
muito respeito, conforme Frazier relembra:
“Nós tínhamos respeito um pelo outro. As pessoas achavam que não podíamos jogar juntos porque subestimavam o nosso respeito mútuo.” (...) “Havia muita admiração em silêncio. Eu nunca dizia nada a ele, ele nunca dizia nada para mim.”
Com o tempo os dois desenvolveram uma química e nos
playoffs Monroe era o titular ao lado de Frazier, formando uma dupla de armadores
que se tornou letal e levou o time para a série do título.
Com diversas lesões na série Final e enfrentando o
Los Angeles Lakers que teve a melhor temporada da história da franquia (69
vitórias e 13 derrotas, recorde que durou até a temporada 1995-96, quebrado
pelo Chicago Bulls de Jordan), os Knicks venceram a primeira partida e perderam quatro seguidas. Jerry West finalmente ganhava o seu anel e os Lakers eram campeões pela primeira vez desde que se mudaram de Minneapolis para Los Angeles.
No ano seguinte Monroe finalmente conseguiu seu tão
esperado título, dando o troco nos Lakers, também em cinco partidas. Ele liderou
os Knicks para a vitória no quinto jogo com 23 pontos, oito seguidos no últimos
2:15 da partida.
Nos anos seguintes, conforme os jogadores iam se
aposentando ou sendo trocados, Monroe se tornou a única ligação com o time
campeão de 1973, até que após o término da temporada 1979-80, Sonny Werblin,
dono dos Knicks na época, disse ao jornalista Harvey Araton, que trabalhava no
Post na época, que o Knicks não iria renovar o contrato de Earl.
Ele não acreditou ao ler a história na contracapa
do jornal e se aposentou. Ele guardou ressentimento da franquia, pela maneira
que tratou seus jogadores, como Frazier que foi trocado e Willis Reed que
demitido do cargo de treinador.
Na primeira vez que entraram em contato com ele
para aposentar o seu número no Madison Square Garden ele se recusou. Em 1985
Dave DeBusschere, GM do time na época, entrou em contato com ele e desta vez
ele não recusou. Porém, quando a cerimônia aconteceu no dia 1 de março de 1986,
DeBusschere já havia sido demitido de seu cargo. Em 1990 ele entrou para o Hall
da Fama do basquete.
Com o tempo ele curou antigas feridas com Abe
Pollin, que em 2007 aposentou seu número 10 em Washington. Monroe se arrepende
da maneira como lidou com a sua situação em Baltimore, disse que foi imaturo e
egoísta e diz que até hoje ama Baltimore.
Monroe participa de diversos programas da
comunidade em Nova York, é dono e comanda a gravadora Reverse Spin Records, além
de em 2012 abrir uma confeitaria, a “NBA Candy Store”.
Na temporada 2012-13 ele comentou alguns jogos dos Knicks no canal MSG e discursou na cerimônia de comemoração dos 40 anos do
título de 1973.
Portador de diabetes tipo 2, Monroe teve que fazer
várias cirurgias no quadril e joelhos. Ele sofreu complicações de uma cirurgia
feita no joelho em julho de 2013 e em setembro ele teve que fazer outra cirurgia,
mas as notícias mais recentes são de que ele está bem.
Ele é casado com Marita Green-Monroe e tem uma filha,
Maya.
Informações e fotos obtidas dos livros: “New York Knicks: The Complete Illustrated History”, “100 Things Knicks Fans Should Know & Do Before They Die”, ambos de Alan Hahn, “Garden Glory: An Oral History of the New York Knicks” de Dennis D'Agostino e “When the Garden Was Eden: Clyde, the Captain, Dollar Bill, and the Glory Days of the New York Knicks” de Harvey Araton.
Informações e fotos obtidas dos livros: “New York Knicks: The Complete Illustrated History”, “100 Things Knicks Fans Should Know & Do Before They Die”, ambos de Alan Hahn, “Garden Glory: An Oral History of the New York Knicks” de Dennis D'Agostino e “When the Garden Was Eden: Clyde, the Captain, Dollar Bill, and the Glory Days of the New York Knicks” de Harvey Araton.
Uma noite no Madison Square Garden:
ResponderExcluirhttp://www.pedromigao.com.br/ourodetolo/2013/11/um-passeio-pela-nba-knicks-97-x-102-bobcats/